quarta-feira, 11 de junho de 2008

Para lá da linha do horizonte. Para lá de mim.


Para lá do azul repousei os meus olhos
Deitei os cabelos em novelos de nuvem
Abri o meu corpo em searas de filhos
Adormeci na sombra de amplas copas
Não acordei sacudida de chuva
Não ardi na fornalha de oblíquos raios
Molhei apenas a minha alma nos orvalhos
Gotículas de papoilas e outras pétalas
Recolhi-me em ninhos de cegonhas
Cantei nas asas melódicas dos gaios
A minha flor de Maio ficou púrpura
Ao olhar o mundo revi-me vezes sem conta
E a usura da vida remoeu-me o peito
Quantas vezes quis eu dormir ao relento
Em planícies em estrelas abertas de noites frias
Para aquecer o nascer do sol num grito
Arqueando as costas num gesto aflito
De quem não sabe ter prazer senão todos os dias
Numa exigência inegociável de sorrisos
De abraços e desejos lidos no vento
Assobiados nas cantigas de amor e tédio
Searas inteiras de Alentejos perdidos
E eu a ler as linhas do meu corpo como um mapa
Para chegar a mim como botão de campainha
E responder-me : quem és?

Guerreiro Meu







Guerreiro que outrora foste

Que perante a imensidão deste oceano
Conquistaste o meu olhar
Aprisionaste o meu sorriso
Beijaste a minha boca sem falar
Porque não foi preciso
E eu que já sabia que virias
De assalto para contigo me levar
Deixei-me ir nas vagas do teu mar
E o vento cantou-me o sentido
De ir e não voltar.

ESTE AMAR.ESTE MAR.ESTE MAR DE TE AMAR.

Este mar de te amar tanto
Este Sol a deitar-se sobre o nosso olhar
Este salgado manto
Que me treme as mãos de te agarrar.
Porque sou sereia e no meu canto
Prendo-te o peito, os olhos e o andar
Embalo-te no meu colo em pranto
Porque estou apenas a sonhar.
Quero-te real estendido, enquanto
O mar se deita e a areia vem beijar
Agarro-te contra o meu peito e sinto o quanto
Em todas as marés te vou amar.
Gosto de te ver a olhar
A focar o dias e as noites
Gosto de te agarrar
A expressão alegre que tens
Quando o mundo se abre
E o apanhas dentro de ti.
Gosto de ti no correr do tempo
E ver-te e veres-me e ...Gosto.

Espelho de mim


Duplicadamente
No quente desta luz
Nos teimosos raios que me trespassam
Na rude casca dos pinheiros
Na estrada por onde segue o meu corpo
Na tua mão na minha
Na correria doida dos ponteiros
Nos olhos todos que me vêem
Nos outros todos que pensam que me vêem
Nas duplicações da ilusão de óptica
Na óptica ilusória de ser
Espelhos de si mesmas
Espelho de mim


Se alguém pintar o horizonte
Que seja a azul e fogo
Em pinceladas oblíquas
Fundindo-se com o olhar.

Se alguém acender as estrelas
Que sejam luz sobre os caminhos
E o pó e as estevas brilhem
Ao canto da coruja e dos grilos.

Se alguém ousar perturbar o silêncio
Que seja a cantar
A dançar também, sobre as searas
Em ondulantes movimentos das ancas
E sempre a sorrir e a sonhar,
Sem nostalgia e sem amarras
Contando os tempos, desenhando Claves
De um Sol que abrirá a janela amanhã.